O RESGATE DO SOLDADO RYAN
Netuno e Cloud computing
Em Julho de 1998, portanto há quase 20 anos, foi lançado o famoso filme “Saving Private Ryan” (em Português, “O Resgate do Soldado Ryan”).
O filme dirigido por Steven Spielberg foi um estrondoso sucesso de público e crítica. Com orçamento de US$ 65 milhões tinha no elenco atores como Tom Hanks e Matt Damon. A trilha sonora foi composta pelo mestre John Williams. Com uma arrecadação mundial de quase US$ 500 milhões, primeiro lugar daquele ano, rendeu o segundo Oscar de Melhor Direção para Spielberg.
Após constatar que três de quatro irmãos haviam sido mortos na guerra, o Departamento de Guerra Americano decide resgatar o único sobrevivente, James Ryan, desaparecido em combate.
A cena inicial é um dos pontos altos do filme. Com quase 25 minutos de duração retrata os primeiros momentos da “Operation Neptune”, ocorrida no “D-Day”, ou 6 de Junho de 1944.
A operação foi responsável pelo assalto naval à Omaha Beach, “codename” para uma dos setores de invasão definidos pelos Aliados, e fez parte da “Operation Overlord”, responsável pela retomada do Noroeste Europeu. A Batalha da Normandia inicia-se no D-Day e vai até 25 de Agosto de 1944, data da libertação de Paris.
Filmada com um nível de realismo até então inédito para a época, considero uma das cenas mais incríveis de reconstituição de guerra para o cinema.
Os números
Os números do D-Day são colossais. Mais de 150.000 tropas foram desembarcadas em 5 praias pelo Mar da Normandia com codinomes Sword, Juno, Gold, Utah além de Omaha, retratada no filme
A tomada das praias levou aproximadamente 8 horas. A mais complexa foi justamente Omaha pelo seu desenho desfavorável às tropas aliadas e posicionamento estratégico para os Nazistas.
A primeira pergunta que aparece é: como uma operação dessa magnitude é planejada? Tal evento não permite improvisos. O conjunto de elementos imprevisíveis é dramaticamente alto. Como organizar soldados vindos majoritariamente dos EUA, Canadá e Reino Unido mas também de outros países como Austrália, Bélgica, Tchecoslováquia, França, Grécia, Holanda, Nova Zelândia, Noruega e Polônia?
Planejamento não é “Hollywoodiano”
Em 2004, foi lançado o filme “Ike: Countdown to D-Day” com direção de Robert Harmon. Tom Selleck faz Dwight D. Eisenhower, General do exército Americano e futuro presidente com mandato iniciado em 1953.
O filme, com orçamento modesto, não possui nenhuma cena de ação ou qualquer efeito especial. Originalmente lançado para a TV Americana foi somente indicado para o Emmy e não obteve nenhum prêmio. Comparativamente ao “blockbuster” Soldado Ryan, é apenas um filme para “interessados”.
Em Dezembro de 1943, Ike, apelido de Eisenhower, é nomeado Comandante Supremo de toda Operação Overlord, incluindo não somente as operações da invasão mas também as batalhas subsequentes na Normandia.
O filme apresenta o planejamento de 6 meses de toda operação. Diversas dificuldades devem ser superadas, dentre elas o próprio comando das tropas. A primeira cena é um diálogo entre Ike e Churchill, primeiro ministro do Reino Unido, sobre a liderança da operação, posto que há uma disputa entre Ike e Monty, o General do Exército Britânico, Bernard Montgomery.
Apesar de todo o enorme planejamento, obviamente, não há nenhuma certeza do sucesso da operação. No filme, por exemplo, há uma referência a uma carta escrita por Eisenhower em que assume total responsabilidade em caso de falha.
Em “Soldado Ryan”, há referências a momentos onde as coisas não saem como planejadas. De fato, há uma carnificina durante o desembarque das primeiras tropas aliadas.
Este Grande Evento Histórico nos traz a conclusão que, mais uma vez, o Planejamento e a Execução devem ser tratados com igual importância. E como o trato romanceado desses eventos pode sugerir, o Planejamento não é “hollywoodiano”. Tampouco arrebanha multidões. Mas se não for plenamente realizo pode levar a derrotas retumbantes.
A conquista da Normandia não foi um evento pontual ilustrado pelo D-Day. Iniciou-se muito antes e terminou muito depois. A conquista das 5 praias teria sido em vão se não houvesse um planejamento para ações posteriores a ela.
Cloud computing
A sedução pelas tecnologias de Cloud Computing é evidente nestes dias. A promessa de resolução de problemas históricos e de grande impacto aos negócios, agora sim, arrebanha multidões.
Uma coleção considerável de gestores financeiros, suportados por gerentes tecnológicos, procuram pelo seu D-Day. Talvez uma boa analogia para ele seja o processo chamado de “Lift-and-Shift”, ou alguma coisa como “movimentação de uma aplicação para a Nuvem sem qualquer alteração de seus componentes”.
São notáveis os benefícios que o “Lift-and-Shift” traz para os negócios. Entretanto, ele deve ser considerado o início das discussões envolvendo Cloud Computing e não o seu término. Um evento desse tipo traz uma sensação momentânea de “problema resolvido”. No entanto, o que se persegue no posteriormente é que, se várias questões foram realmente resolvidas pela Nuvem, outras surgiram.
Os custos com operações são claramente reduzidos por um “Lift-and-Shift”. Além disso, qualidades não-funcionais como disponibilidade, “throughput”, etc. são mais facilmente implementadas. Por outro lado, aplicações movimentadas para a Nuvem levam intrinsicamente suas qualidades e seus defeitos. Problemas históricos apresentados pela aplicação como, por exemplo, instabilidade por falta de robutez na codificação, serão integralmente preservados.
É então, inescapável, a necessidade de... Planejamento. Discussões como estas não somente precisam, mas devem ser realizadas:
· Por que devemos movimentar uma aplicação para a Nuvem?
· As aplicações elencadas para o movimento à Nuvem, são realmente representativas ao negócio?
· E os custos de licenciamento de SW?
· A aplicação em processo de movimentação é dependente de quais outros componentes On-Premises? Será necessária uma Arquitetura Híbrida?
· Quais aplicações devem ser movimentas em primeiro lugar?
· A equipe técnica está capacidade para esta movimentação?
· Como lidar com todos os perfis e áreas de profissionais existentes como desenvolvedores, homologadores, administradores, operadores, usuários, jurídico, financeiro, etc?
Vários analistas de mercado têm proposto procedimentos de Planejamento para Cloud Computing. Cito “os 5 Rs” do Gartner. São descritas 5 opções de migração de aplicações para a Nuvem: Rehost, Refactor, Revise, Rebuild ou Replace. Nesta proposta, o “Lift-and-Shift” (chamado de Rehost) é considerado como uma das 5 opções possíveis de migração de uma aplicação. Uma referência pública está em aqui
As tecnologias de Cloud Computing chegaram para ficar. O pior erro que podemos cometer é a negação disso. Tratá-las com superficialidade, sem planejamento e visando somente ganhos de curto prazo, é um outro erro grave. O “Lift-and-Shift” isolado, desprovido de visão ampla, pode resultar na ocupação de praias da Normadia. Vários generais assim como a população dos países ocupados comemorarão efusivamente o evento. Por outro lado, há um alto risco destas praias serem retomadas pelo inimigo posteriormente.